Manifesto editorial
Há muitos anos, desde que me ocorreu a fundação de uma casa editorial para abrigar as manifestações literárias (em suas mais diversas linguagens) de novos autores, que esta palavra e o objeto que ela representa estão sempre por perto, como num giro de ideias procurando um sentido. Ela nos fala do engenho que acolhe uma roda de pedra, que move antigos moinhos hidráulicos remetendo aos trazidos para o Brasil pelos portugueses.
Além de serem objetos de grande beleza e, ao rodarem, produzirem um som de muita leveza, apesar do seu peso, as rodas de pedra das atafonas possuem emblemáticos sulcos traçados a partir de uma lógica e de uma técnica bem peculiares. A finalidade desses traços pode apenas ser imaginada, pois é no giro veloz da roda que reside a sua função.
Na diversidade de sentidos e variedade gráfica desses sulcos, na sua quase silenciosa e cadenciada pulsação, podem-se ouvir, sem qualquer regularidade, os atritos e os ruídos ocasionados pelo atrito e pela giro veloz sobre os grãos que caem suavemente sob ela.
Assim é também com as ideias formadas a partir das narrativas escritas pelos artistas da linguagem – ruídos, sonoridade dispersa, nebulosidade mental, vão cedendo, aos poucos, lugar a imagens capazes de reunir a dispersão dos sentidos e constituir outras, aquelas oxigenadas com a surpresa e novas visões de mundo que não param nunca de rodar.
Agradecimentos
O surgimento e a materialização da Atafona são devidos a muitas pessoas - amigos com os quais compartilhei o sonho de criar uma editora dedicada ao trabalho com os novos talentos da escrita e da imagem. Por isso ela foi denominada Casa editorial dos novos autores. A lista é grande, mas não finita. Juarez Guimarães, meu irmão mineiro, que se juntou a mim no momento de definir por esse nome. Lucia Santiago, minha mulher há 17 anos, que me apoia e atua decisivamente na difícil tarefa de finalização dos projetos editoriais. À minha filha Mariana Santiago Kleinert, pelas conversas inteligentes e pela ajuda com a tradução e a revisão em língua inglesa. Ao Francisco Santiago, pela presença no tratamento das fotos e edição dos vídeos que futuramente estarão aqui no site. Na sua pré-adolescência, me confidenciou noutro dia que contou aos amigos sobre o pai editor. Ao ex-colega de universidade, o admirável amigo Silvestre Rondon Curvo, autor do Manual de Identidade Visual da Atafona. E também ao filho dele, o video maker Victor Curvo, grande colaborador no processo de edição dos vídeos do acervo da editora. Aos meus irmãos Nereide e Nivaldo Santiago, por terem me formado e ajudado a formar as convicções que defendo hoje, encorajadores e determinados entusiastas desta ideia, desde o inicio.
Osvaldo Amaral (in Memoriam), companheiro capaz de me proporcionar uma prazerosa convivência, intelectual e pensador que possui a incrível capacidade de ouvir e dialogar com os seus interlocutores. Numa manhã, em sua casa, quando gravávamos os diálogos para a edição do seu livro de conversas, me disse que havia vivido com a sua família numa pequena cidade chamada Atafona. E quantos assuntos surgiram depois disso. Ao amigo-quase-irmão (como ele diz), André Meyerewicz, a quem devo tanto estímulo e uma convivência de inestimável qualidade que já dura mais de 20 anos. À ex-colega de universidade e, principalmente, amiga e incentivadora, Lia Krucken, que trouxe para a Atafona a edição da obra inaugural da editora. Aos meus queridíssimos ex-alunos e companheiros do grupo Experiências da Leitura: Elbert Rodrigues, Fabíola Rodrigues, Fran Silva, Júlia Lages, Helga Freitas, Letícia Ahouagi, Lílian Ximenes, Lucas Monteiro da Rocha Farias e Lucas Morais (da UFMG). Gente da melhor qualidade com quem convivo há mais de uma década, estudando, esmiuçando e desentranhando pensadores e pensamentos. A outro e igualmente especial amigo, o poeta Christian Coelho, autor de belos textos.
Mário Santiago
Editor