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Durval Barbosa

"Conheço Seu Durval há muito tempo. Militante popular histórico da nossa região, o Vale do Mucuri, seu engajamento na militância sindical e partidária teve como fonte inspiradora a fé celebrada nas Comunidades Eclesiais de Base, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, ensinamento da Teologia da Libertação.
Seus textos em prosa, poesia e letras de cantos tratam de fatos reais, vividos e testemunhados na sua longa trajetória de vida. São expressões de amor, saudade, solidão, lamento, indignação, denúncia, súplica, compaixão, solidariedade, agradecimentos, louvores...

Neste livro veremos o seu encantamento pela família, com dedicação especial à sua esposa Dona Ana; a contemplação e o cuidado com a Mãe Terra e toda a sua diversidade; a gratidão para com as pessoas e o lugar onde mora; uma atitude corajosa e de indignação com as injustiças sociais, denunciando a exploração e o desprezo dos ricos pelos pobres  e, por fim, a lucidez da fé em Deus, encarnada na história, presente e vivenciada na comunidade dos irmãos e irmãs de todas as crenças."

(Trecho da apresentação escrita por Leodônio Alves Martins)

"História que meu pai, Eloi Barbosa, contava:
´Em 1886,  dizia ele, houve uma grande seca, no sertão de Minas e da Bahia”. Essa seca continuou até 1890, e acabou toda reserva de alimento. Morreu muita criação
de gado, e gente pobre, também. Dizia que muita gente mudava procurando recurso para não morrer de fome.
Que a pobreza comia até carniça de gado, que morria de fome e sede. A pobreza pegava o coro das vacas que morria, torrava e pisava no pilão, e fazia farinha de couro; ossos quebrava para cozinhar, e com a farinha de couro fazia pirão para comer e dar aos filhos.
Em 1891, choveu, e deu muito maxixe, a pobreza comia e saciava a fome. Continuou chovendo, e deu muita fartura.
Mas o povo não preveniu.
Em 1899, houve outra grande seca, e não deu mais mantimento; e morreu muita criação, e crianças também morreram de fome.
Em janeiro de 1900, apareceu o milagre dos pombos. Apareceram bandos de pombos, assentavam no chão; e ali ficava quantidade grande de ovos. O povo corria pra lá,
apanhava os ovos e assim por diante. O povo começou a matar os pombos; aí as autoridades proibiram a matança. Aí veio a chuva, e deu muito maxixe e fartura. Em 1930, houve crises. Aí eu já tinha 10 anos e eu vi muita gente pobre passar fome. Pai de muito filho, todos pequenos; eu vi o pai trabalhando para receber um litro de fava, um prato de farinha de mandioca por semana.
Eu vi também trabalhador ganhando mixaria por dia (o patrão dava comida); o que ele fazia: o trabalhador de manhã cedo levava um embornal, na hora da comida, ele comia um pouquinho e colocava a comida no embornal e levava pra mulher e filhos.
Eu vi também o homem chegar do trabalho e encontrar a mulher chorando e os filhos todos em pranto por não terem o que comer. O homem também chorava, porque ele constituiu família e passava fome. Eu também vi a mulher pedir a patroa ceder pra ela lavar as vasilhas da patroa e levar a lavagem.´" 


(Durval Barbosa, trecho do livro Cantos de comunhão)

Durval Barbosa

O livro Cantos de comunhão foi editado por iniciativa do Ponto de Cultura CEIA Pavão e viabilizado com recursos da Lei Aldir Blanc.

Agradecimentos0 à Jandira Cangussu, do CEIA, pelo competente trabalho como coeditora desta obra

Fotos de Diego Salomão e Giovana Cangussú


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